domingo, 27 de fevereiro de 2011

UNIÃO EUROPEIA E CULTURA

Não serão muitos os que terão presente que a Hungria está a exercer a Presidência da UE e que hoje se inicia uma Conferência sobre o Contributo da Cultura para a implementação da Estratégia Europa 2020. E sobre a Conferência a partir do site do Gpeari (Organismo do Ministério da Cultura):
«A Hungria apresenta uma aposta para a sua Presidência, na área da cultura: no contexto da Estratégia Europa 2020, a Presidência lança uma Conferência que visa identificar os domínios e os meios através dos quais a cultura pode contribuir para um crescimento inteligente, durável e inclusivo da economia europeia.
Numa altura em que as restrições financeiras, a coordenação obrigatória das políticas económicas dos vários Estados Membros, o alargamento da União à Croácia, as questões de relacionamento com os países da chamada Parceria Oriental, são temas de primeira página na União, a Presidência magiar traz para o centro do debate, ideias sobre cultura: como é que as ideias se podem tornar um sucesso comercial, permitindo às pequenas e médias empresas que inovem e cresçam, que utilizem novas tecnologias? como pode a cultura contribuir para a perfeição do desenvolvimento humano? e para a melhoria do capital social/civil que é exigido para o crescimento inteligente, inclusivo e sustentável na Europa? como utilizar a cultura no combate à pobreza e à exclusão? e a estética e as artes no desenvolvimento cultural sustentável?
E os investimentos na cultura, como optimizar fundos?
Vamos assistir a um debate sobre o facto dos sectores culturais e criativos representarem uma importante fonte de inovação tecnológica e não tecnológica, dada a natureza multidisciplinar da inovação e das ideias que lhe subjazem.
A Conferência, lufada de ar fresco no grande documento de orientação económica da Estratégia 2020, e que conta com um grupo de oradores de grande qualidade, entre os quais o Professor Freire de Sousa, representante português e co-presidente do Grupo de Trabalho das PME da Comissão Europeia, propõe o debate à volta dos seguintes temas: Cultura e Crescimento Inclusivo, Cultura e Crescimento Inteligente, Cultura e Crescimento Sustentável e Cultura e Mensurabilidade.
Os resultados serão debatidos por todos os Ministros da Cultura no Conselho Informal de Ministros de Março de 2011.
A não perder os resultados!»
Não pode deixar-se de  reparar no estilo deste texto, da «lufada de ar fresco», ao «sucesso comercial», e é claro que no mínimo vamos estar atentos ao que o Professor Freire de Sousa vai dizer, e procurar o seu pensamento sobre a Cultura, e prometemos ao Gpeari que não vamos «perder os resultados». E assim vai o mundo, perdão, a UE. 

sábado, 26 de fevereiro de 2011

«HÁ MUITO AGUARDADA»

A nota acima é da revista ATUAL do sábado passado daquela secção de «SOBE & DESCE» e  estava no «Sobe» com uma fotografia ao lado da Ministra da Cultura. E tanbém isto é motivo para pergunta: aguardada por quem? E quais são as suas características que permitem dizer que é algo positivo? Que garantias se tem de que não vai ser semelhante ao que se deu no passado? E o que é feito da REDE NACIONAL? Só com base nos arquivos da PARTE,  relacionados com esta matéria,  outra pergunta: tendo apenas em conta «o momento CARRILHO», o que é que o agora anunciado tem a ver com o que este excerto diz?

Precisando, com uma transcrição do prospecto de onde se tirou a imagem anterior: «(...) É agora altura de uma nova solução que se traduz no objectivo de dotar o país destes equipamentos, começando, em primeiro lugar, pelo compromisso de construir uma rede nacional de teatros e de cineteatros que abranja todas as capitais de distrito e, em segundo lugar, pelo empenho em fomentar uma rede municipal de espaços culturais que responda, com visão de futuro, à diversidade das situações  e de ambições que o país exibe».
E para não se dizer que só se fazem perguntas, uma sugestão: elabore-se um LIVRO BRANCO sobre este assunto antes de se começar a actuar, doutra forma a probabilidade de apenas se estar a «gastar» sem «investir» é enorme. Voltaremos a tudo isto, em breve. Mas, desde já, não esquecer que ao Ministério da Cultura compete o «nacional» e que o «local» é das autarquias. E naturalmente que se deve trabalhar de forma articulada, e até em parceria, como agora é comum pedir-se. O diabo é quando as parcerias levam a vazios de responsabilidade, ou seja, quando todos dão para o mesmo peditório sem saber-se muito bem o que exigir e a quem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

KEUNER, O PENSADOR


Keuner, o pensador

Assim se auto-nomeia este alter-ego de Brecht nas suas próprias histórias, ele é um contador de histórias. Mas mais que pensador, ou pensador de uma dada forma, Keuner é um perguntador que quando faz afirmações coloca outras tantas dúvidas. Ele abre deste modo brechas no cimento dos clichés assertivos do Grande Costume, como Brecht caracterizou uma vez a força inamovível das verdades inquestionáveis do sistema que o capitalismo gerou. É um pensamento do simples, do que nos sucede e do que sendo comum não é normalmente objecto de indagação e é filosófico, criando caminhos e processos de pensar pensando, na medida em que desencadeia alternativas ao que a realidade impõe como pragmatismo de um modo que parte muitas vezes da ingenuidade, da pergunta curiosa, na explicitação daquilo que no óbvio está oculto pela força da sua própria evidência. O senhor Keuner fala muito da violência e personifica-a como monstruosa, omnipresente e quase indefinível pelo grau da sua infiltração abrangente na realidade, como uma estranha segunda natureza, pois está em todo o lado e assim sendo é difícil combatê-la, sendo o único modo de o fazer disseminando a paz, semeando-a por todo o lado como antídoto.
Aconteceu-lhe uma vez ter tido mesmo a necessidade de dizer aos seus alunos que tinha de viver mais tempo que a violência para acabar com ela, quando o acusaram de falta de coluna vertebral, pois que talvez por medo, em dada circunstância, tivera de lhe apresentar cumprimentos elogiando-a para lhe escapar. Sabe-se que Brecht escreveu a dada altura, fugindo do nazismo, que mudara mais vezes de país que de sapatos e é conhecida a sua atracção pelos domicílios fixos, tantas vezes tivera de mudar de casa.
O senhor Keuner, o perguntador, não pratica tanto a dúvida metódica, pratica mais a dúvida espontânea, aquela que a curiosidade move na cabeça de todos – o argumento não o move tanto quanto a dúvida. Ele é uma espécie de delegado não eleito daquilo que são as dúvidas de todos nós, esse primeiro passo da pergunta, segunda etapa de um processo que porventura ajuda a compreender a realidade quando esta impõe o modo como a devem ver – não se deixando ver, porque a realidade é uma construção humana e sistémica -, pelo poder dos seus poderes de facto, pelo poder das suas formas de estruturação, das que se apresentam com a face da eternidade, afirmando que tudo volta sempre ao mesmo e nada muda. E por isso, o senhor Keuner é um cultor da dialéctica simples da pergunta que fazemos na infância e que leva à visão de que o rei vai nu. Já Cervantes fustigara o preconceito no seu maravilhoso entremez O retábulo das maravilhas pondo um conjunto de cidadãos a ver pelo filtro sujo do preconceito o que, na realidade, não era o que as personagens do entremez viam e estas viam então ouro aonde apareciam ratos e maravilhas do mesmo tipo porque o preconceito mandava. Se o rei faz de estar vestido que dirão os súbditos? Que está vestido, claro. Se a dívida pública é uma inevitabilidade que dirão os estipendiados ao seu serviço que o contrarie? Pois Keuner, o pensador, pela imposição de uma realidade que nunca permite grande folga ao pensar mais descomprometido, nem a que se fale de maçãs quando a mortandade é maior que a mortandade supostamente regulada, não pode deixar de falar das questões económicas. Ele próprio tem de sobreviver e para além de já ter ido para a bicha das mentiras vender uma histórias para comprar leite do dia, cantou umas vezes no cabaré sobre o modo como se constitui o capital inicial das grandes fortunas, tendo as pessoas ficado escandalizadas por saber que todas as fortunas nascem de esbulhos e que no princípio não é o verbo mas o saque. E fez mesmo uma conferência económica sobre o modo como associar no mesmo monopólio propósitos concorrentes, uns de sabor puritano e terapêutico, outros de sabor proxeneta e virótico (de vírus pós erótico) e escreveu uma peça a mostrar também como é que um determinando gang mafioso tomou o poder e de que modo também o poder ditatorial se ergue sobre o assassinato e o controle dos negócios do Estado como um controle semelhante ao dos negócios obscuros da economia oculta.
Mas mais que isso, o senhor Keuner, o pensador, sendo crítico também dos costumes massivos, chegou mesmo a procurar soluções de como evitar a carnificina entre os de baixo estimulando o pensamento colectivo, isto é, o hábito de pensar criticamente em conjunto como uma necessidade imperiosa dos novos tempos, tão complexos. Referia-se ele a um século vinte prometedor, apesar de tudo, mas longe desta sociedade hiper-massiva de controle que nos tolhe a mente a cada instante de vício e dependência do que sejam as práticas comunicativas e os seus instrumentos, mais as trelas que os compõem e ligam a centrais de indução à “comunicação” constante. Comunicar passou a ser uma espécie de corrente eléctrica que nos tem ligados por trelas várias a um trânsito em que não cessa a hora de ponta e os seus bloqueios, estando nós permanentemente nela. Quando dela saímos logo nela reentramos porque nos segue por toda a parte sob várias formas, sendo que uma delas é certamente a música constante que nos cerca e ensurdece. Tudo converge: as imagens que cegam, a música que ensurdece, o tacto que insensibiliza, o exercício que esgota, o estudo que é descartável, a verdade que é hierarquizada, os prazeres que se tomam rápido como comprimidos e a cabeça que anda sempre atrás do telecomando que a viciou. No meio disto, claro, cada vez mais fragmentados e divididos pela multiplicidade de tarefas que fazem de nós um novo sapiens, uma espécie de operários inconscientes da grande fábrica de pequenas tarefas em que se tornou o quotidiano – o IRS, a conta do banco na internet, o email,
as mensagens, a hora de ponta, o telejornal, a bola, a bicha da praia, o ginásio, o mesmo fim de semana de toda a gente, etc. Uma fábrica de práticas soft para a tal classe média dominante e de muitas e estranhas violências nas suas franjas favelizadas, tudo sob o regime faroeste sem lei que impera no mundo globalizado.
Mas ao que aí vem, a queda mais que provável deste esquema pobre e podre, que dirá o senhor Keuner, de novo tão necessário pelo espírito indagador? Para velhas questões, novas perguntas claro.

Fernando Mora Ramos

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

OQUE É QUE EM ALCANENA SE SABE QUE A «PARTE» NÃO SABE?

A «transparência» parece ser um valor que todos defendem. Mas a transparência para existir tem de ser trabalhada. Não basta inundar as pessoas com enxurradas de dados, fornecidos muitas vezs não se sabe onde e a que pretexto.  E mais recentemente quem se der ao trabalho de saber mais sobre as recentes medidas do Ministério da Cultura encontra tudo menos clareza. Vem isto a propósito de uma notícia a que se teve acesso por mero acaso - foi através daqueles alertas a que podemos aderir na internet - e que diz o seguinte: 

Tiago Guedes é o novo director do Cine-Teatro São Pedro em Alcanena
(...)
 O novo director artístico do Cine Teatro S. Pedro acredita que este será um dos 15 Cine-Teatros «âncora» do projecto de financiamento anunciado esta semana pela ministra da Cultura, sublinhando que está a trabalhar na cndidatura a entregar até Maio». 
Mais em www.omirante.pt
Destaque-se o até Maio. Quem sabe  onde obter-se  informação sobre estes calendários?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O QUE É QUE PAULO RIBEIRO SABE QUE A «PARTE» NÃO SABE?

Na revista ATUAL do jornal EXPRESSO deste fim-de-semana há um destaque com uma frase atribuida a Paulo Ribeiro que diz: «Novas Linhas de Apoio é positivo porque  implica que os Projetos tenham uma direcção artística consequente e autónoma e isso faz toda a diferença». Com a indicação de que tinha sido publicada no Jornal Público. Procurou-se e, de facto, aqui encontrou-se isso mesmo. E a PARTE só queria saber como é que o Paulo Ribeiro tem esta informação. Já haverá algum projecto de regulamento? Se sim, era bem interessante divulgá-lo neste blogue. Quem puder dê noticias.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

REUNIR REFLEXÃO

Uma das ideias com este blogue é juntar num mesmo sítio reflexões que estão por aí dispersas. E por isso chamamos para aqui um artigo de Joaquim Benite que começa assim:

Quando o Teatro carrega sobre os seus ombros a
responsabilidade de equilibrar o Orçamento do Estado…
por Joaquim BENITE*
O corte de 23% nas subvenções às Companhias de Teatro com contratos quadrienais e o anúncio do mesmo corte para os futuros contratos bienais e anuais foram apresentados pelo Ministério da Cultura como uma consequência inevitável da redução orçamental sofrida pelo Ministério.
  O corte – brutal para muitas companhias – foi justificado, dentro da retórica habitual, com o argumento de que, diante da crise “os sacrifícios tocam a todos e o teatro não pode ficar de fora”. Já se sabe que, na verdade, os sacrifícios não tocam a todos, e não podiam tocar da mesma forma. Por exemplo, o teatro português, infra-subvencionado desde há muitos anos, tem sofrido sempre as consequências de uma crise bastante mais antiga do que esta de que se fala agora. Desde 2000 essa crise resulta do carácter errático, improvisado, caprichoso e casuístico de políticas constantemente alteradas por Ministérios incompetentes e incapazes de definir um quadro global de funcionamento do tecido teatral português.
  Na realidade, o Estado está a dever muito mais dinheiro ao teatro do que os 23% que corta agora: se não fosse a actividade das companhias independentes subvencionadas, que executam a parte maior do Serviço Público no que diz respeito à criação teatral, não haveria verdadeiramente teatro no nosso País.
(...)
e que pode continuar a ler aqui.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MILHÕES



Não tenho nada contra o dinheiro. Traduzindo-se em projectos podemos até pensar que não está presente, que neles se concretiza quando os projectos se materializam como mudança real dos panoramas existentes de vida cultural activa, de práticas artísticas, de vivências democráticas veiculadas pela experiência e experimentação do artístico na sociedade. Para além disso há duas coisas evidentes nos dias que correm, uma delas é que a chamada crise – suspensão da pluralidade de opinião em nome de vestir a camisola do clube da unanimidade pátria face à dívida gerada pelos sem rosto do mercado, o intocável – levou a uma valorização do dinheiro absurda, assumindo-se que com raspas se fazem pirâmides realmente egípcias e outra é que o dinheiro, que quando há é para usar como meio, regressou em força ao altar próprio do que é fetiche, tornando-se desejado e inalcançável nas duas mesmas faces de uma moeda ritual, incensado pelos que o tratam diariamente nos média com o amor conhecido, de bolso próprio e com gestos de sacerdócio aplicado e reverente, pois os papas da coisa vigiam com os olhos do lucro o que os seus estipendiados praticam diariamente nos ecrãs.
Vem isto a propósito da intervenção que o primeiro-ministro fez no CCB em torno do anúncio de cerca de 4.500 milhões de euros – EUROS – para finalidades culturais. Os projectos apresentados são em si interessantes, mas o financiamento alcançado daria para fazer de modo muito humilde, metade de um deles à espera de que chovesse o resto do dinheiro necessário – uma arquitectura é uma arquitectura e para a realizar não basta levantar uma parede e deixar para o dia de são nunca, alicerces e telhados. Uma rede de teatros com programações consequentes não se faz com trezentos mil contos, mais ou menos um terço dos dinheiros da Dona Maria que para nada serve a não ser para delapidar meios financeiros públicos que deveriam ser re-projectados – para quando um concurso com um júri idóneo, internacionalizado, à falta de competências nacionais e já que não conseguimos gerar um projecto consequente nesta casa essencial que, por si, e com o que nela se aplica, poderia modificar parte do panorama teatral português?
Porque as programações não são circulação se querem ser riqueza, não são bilheteira, são criações, são formas objectuais com identidades artísticas próprias singulares e não miméticas e isso significa um quadro de produção muito mais complexo e financeiramente pesado. Uma programação significa criação, formação, divulgação, circulação, publicidade, multiplicações em suportes vários, sofisticação técnica artesanal e tecnológica, estratégias de aprofundamento, parcerias, co-produções, internacionalização, tudo num mesmo gesto culto e orientado como não há quem em Portugal o faça de um modo integral e profissional, pois estas matérias estão, nas maior parte dos casos, entregues a fiéis dos chefes das autarquias, burocratas, meninos bem fabricados à pressa pelo meio bacoco e amadores de arte de consumo comercial, consumidores armados em programadores – a democracia, enquanto qualificação, nestas vertentes de actividade não existe.
E a questão é de uma evidência que não pode ser mascarada: em 1990 o CAT (Centro Andaluz de Teatro criado pelo governo de Alfonso Guerra) tinha um milhão de contos, isto é, 5 milhões de euros para um ano de actividade. Nem vale a pena referir que o Deutches Theater mesmo com a crise e a integração da nova Alemanha terá qualquer coisa como mais de 20 vezes o que aqui se refere e é um teatro. Somos mesmo duas Europas e se somos assumamo-lo pois há muito a fazer com o dinheiro que está investido, muito mais do que aquilo que se faz com o necessário dinheiro a inventar, pois não se pode deixar de considerar positivo que estes dinheiros apareçam. Mas são necessários dinheiros numa outra escala e principalmente uma revolução sistémica do que existe.

«SINAL POLÍTICO DO GOVERNO» PARA A CULTURA


Primeiro-Ministro José Sócrates na apresentação do Fundo para a Internacionalização da Cultura Portuguesa e criação da Rede Portuguesa de Teatros Municipais, Lisboa, 15 Fevereiro 2011 (Foto: Ricardo Oliveira, GPM)

O Governo no seu todo, ultimamente, tem tomado decisões políticas para o sector da Cultura. Foi isto que ontem se ouviu do Primeiro Ministro em acontecimento havido no Centro Cultural de Belém:
«O Conselho de Ministros de 3 de Fevereiro alterou a grelha de distribuição das receitas dos jogos sociais, passando a Cultura a ficar com uma percentagem de 3,5%, em vez de 2,2%, o que corresponde a mais cinco milhões de euro por ano. O PM referiu que outros sectores beneficiários das receitas dos jogos sociais «não ficaram propriamente exultantes» com a decisão do Governo, mas faz sentido «proteger a cultura de uma política de austeridade que o Estado vai ter de seguir». Este é um «sinal político do Governo», «um sinal que distingue a Cultura enquanto uma política pública absolutamente necessária para a modernização e para o desenvolvimento», do mesmo modo que aconteceu com a Ciência no primeiro Governo chefiado por José Sócrates, com os resultados que são conhecidos.
Para se saber mais sobre estas medidas, e de esclarecimentos sobre elas, é capaz de ser boa ideia recorrer ao Portal do Governo, ao Blogue da Cultura do Gabinete da Ministra da Cultura, e ao site da DGARTES.
Neste último pode ler-se:
A Direcção-Geral das Artes informa que anunciará, brevemente, as alterações dos montantes de apoio às estruturas com contratos quadrienais (ainda para o ano de 2011) resultantes do reforço financeiro de um milhão de euros anunciado ontem pela Ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas.Então, e as outras modalidades não vão beneficiar deste sinal político?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

«ELITÁRIO PARA TODOS» : máxima de Antoine Vitez

«Elitário para todos» é o titulo deste blogue,  justifica-se que se escreva sobre isso: trata-se de uma máxima de Antoine Vitez. Contrapõe ao nivelamento por baixo, tão argumentado pelos arautos dos diversos populismos estéticos, o nivelamento por cima. É uma fórmula de extrema simplicidade e poderosa, já que dificilmente pode ser contraditada, pois ninguém defende com razão possível que ao melhor e ao mais rigoroso se substitua o menos bom e imediatamente digerível. E nela se encerra todo um programa. Certamente o programa que defende e afirma que os destinatários dos objectos teatrais não são idiotas e não necessitam de tutores do gosto que para eles estabeleçam os modos como eles, os destinatários, poderão um dia entender o que eles, os tutores, entendem que eles não estão preparados para entender. Esse tipo de paternalismo que decide o que os espectadores são ou não capazes de perceber não entende que os espectadores de cada assembleia, no teatro, são todos e cada um e que a representação teatral autêntica não se propõe como objecto erudito inalcançável, mas justamente por se dar a conhecer pela via de uma duplicação da vida presentificada pelos corpos e vozes dos actores, seja ela o que for na forma, abre caminhos de experiência de ficcionar ao espectador que este próprio não prevê por ser de apreensão sensível e intelectual em acção sensorial e mental na cena, quer se trate de Racine ou de Tabori – o teatro não é um lugar em que a experiência da compreensão materialize um saber que é o saber com que se entra na sala para o ver.
No teatro o saber do espectador é problematizado pela emergência do que em cena é pensado em acto, é pensamento a emergir entre a cena e a sala e prolonga a partilha do sensível experimentado na solidão do pensamento de cada um, de que modo seja, mais imediato ou mais mediato – quem não se lembra de imagens de espectáculos com mais de trinta anos? E nesse sentido é uma escola, uma escola da descoberta de um exercício de pensamento que emerge da experimentação do objecto presentificado em cena através dos corpos do outro que em cena se nos dirige como imagens, a representação teatral, o contrário do espectáculo que age em cena como poder apenas, como imposição. E isso vale para o altamente alfabetizado como vale para o iletrado que é certamente portador de uma outra cultura específica, biográfica, o que não é exactamente o mesmo para outras formas artísticas que convocam outras exigências de conhecimento de linguagens e cronologias.
A questão central aqui é a do preconceito e tem justamente a ver com o condicionamento ideológico que estabelece que nem todos podemos ser seres pensantes e que há mesmo uns que nos governam, que exercem poderes variados, que estão encarregados de pensar por nós. E esses não são certamente os filósofos, são os outros, os intelectuais orgânicos do sistema de castas e o conservadorismo reinante, principalmente aquele que se veste dos mais diversos experimentalismos performativos, publicitários e narcisos, todos muito actualíssimos e arrojadíssimos, a começar pelos liberais berlusconianos, que redescobriram as virtudes do bordel. Não há reaccionário mais autêntico que o tipo que cavalga a onda do imediato e despreza a distância que o tempo aconselha e aquela prudência que o anacronismo ensina pelo desfasamento, pelo estranhamento, diferenciando o que se vê do que se pensa, contrariando as fórmulas do estar in essa outra maneira de uma mundivisão apenas mundana, como aquela que fazia as pessoas ir a um lugar de suposta prática artística mais para serem vistas do que para ver. Nada mais estranhamente vulgar que a frivolidade militante.

CONTRIBUIDORES

E quem vai alimentar o ELITÁRIO PARA TODOS? À partida todos aqueles que quiserem  participar num processo de reflexão que muitos dizem ser indispensável na esfera das Artes do Espectáculo. E não se pode dizer que não haja  quem pense este sector, mas está tudo disperso. Assim, este blogue e o site que lhe está associado serão o que os contribuidores fizerem dele em cada momento, pretendendo-se que se vá para lá do imediato, e que se veja o todo para lá da parte, e deseja-se  também que sejam  sítios para onde se poderá fazer confluir informação que interesse ao sector  para que se tenha memória e não estejamos sempre a ouvir «que pela primeira vez» se fez isto ou aquilo, quando há passado só que não há memória. E ao juntar-se ganha-se escala. Enfim, juntar «partes» de quem quer fazer parte de algo maior. E, para já, para além daqueles que nos bastidores poderão indo coleccionar documentos que interessem, e que estiveram envolvidos no Encontro de 2005, e que publicarão sob a designação PARTE, já há um Contribuidor com rosto e nome - um  dos fundadores da PARTE em 2005 - Fernando Mora Ramos. E outros se seguirão.   

A «PARTE» VEM DE LONGE

Programa do Encontro realizado a 4 de Junho de 2005 no Centro Nacional da Cultura pela Parte


Dissemos no post anterior que este Blogue é da PARTE - Plataforma das Artes do Espectáculo. Mas, verdadeiramente, o que é a PARTE?   Revisitemos o início com o acontecimento que a originou, pelo menos na designação: um encontro que houve no Centro Nacional da Cultura,  em Junho de 2005, em que foram oradores, entre outros,  Guilherme de Oliveira Martins, Rui Vieira Nery, Miguel Azguime, José António Bandeirinha, Fernando Mora Ramos , Vasco Welenkamp,  Maria do Céu Guerra, E as interrogações assinaladas no «Press  Release» que o divulgou não deapareceram, podendo dizer-se que o debate tem de continuar, e agora recorrendo-se a outros instrumentos como é este blogue e o site que lhe está associado - PARTEplataforma -  sem  se abondonarem os encontros face - a - face. Do que se escreveu na  ocasião:
«O serviço Público nas Artes de Cena já teve um horizonte: quando houve uma política de convergência com a Europa, centrada também na cultura. Fôz Côa foi então um símbolo propulsor, os Centros Regionais das Artes do Espectáculo avançaram - onde é que essa «rede» hoje tece a sua malha? - e pela primeira vez se afirmou um Teatro Nacional (TNSJ) com um programa de verdadeiro Centro Dramático. Noutras áreas como o cinema ou o livro, verificou-se uma política de expansão. O país colocava como prioridade da sua modernização o que apenas fora tema de rituais de ocasião: a cultura e as artes.
A cultura artística descobria-se economia, emprego e buscava um novo ordenamento nacional, estruturante da nossa identidade, não já como perfil de «um modo de ser português», mas como criação de uma «nova alma» fermentada no melhor da nossa tradição e reinventada em diálogo com a arte contemporânea, europeia e cosmopolita - no seu melhor, claro.
(...)»
Pode ver o texto completo aqui que faz parte do conjunto «Programa/Convite/Press Release».

  

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011