segunda-feira, 20 de agosto de 2012

«UM POETA MESMO ATEU É UM SISMÓGRAFO»



Padre José Tolentino Mendonça

«Discurso cristão tem de ser culturalmente impertinente»  e «um poeta mesmo ateu é um sismógrafo», diz o diretor da Pastoral da Cultura,  Padre José Tolentino Mendonça, em entrevista ao DN de ontem:
«(...)
Mas dar a outro livro o título Um Deus que Dança, com uma afinidade muito grande com a frase de Nietzsche, não é uma provocação?
O discurso cristão tem de ser culturalmente impertinente, tal como a teologia, porque a sua natureza é estar do lado da interrogação. A fé dá que fazer! A escritora Flannery O’Connor dizia que crer é mais difícil do que não crer, e, nesse sentido, o diálogo com os não crentes é um caminho necessário porque testemunha alguma coisa que é inerente ao caminho do crente. É um património comum.
Usar versos de Cesariny para descrever a sua relação com Deus também é impertinência!
É ao mesmo tempo fazer um ato de justiça. Um dos maiores teólogos do século XX, Hans Urs von Balthasar, dizia que a gramática de Deus foi mais iluminada no século XX por poetas, pintores e artistas do que propriamente por teólogos. Um poeta, mesmo ateu, é um sismógrafo e alguém que tem da dimensão espiritual uma captação às vezes mais intensa do que as fórmulas onde os crentes normalmente se reveem.

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